“Foi o dia mais feliz da minha vida”. Uma frase que todos nós dizemos com a leviandade típica do momento presente. Mas às vezes é muito mais profundo do que isso.
Cruzei-me ao longo da vida, como todos nós, com pessoas que são para nós exemplos… e outras que representam exactamente o contrário.Há os indivíduos que nos fazem pensar “eu quero ser como este tipo um dia” e aqueles que nos fazem perder a fé na raça humana. Mas são raros os casos de genuína admiração. Especialmente se tivermos a falar de um grupo inteiro de rapaziada.
Nos últimos anos ganhei a mais profunda admiração e respeito por um desses grupos. Chamam-se Recuperadores Salvadores.
Homens como eu, tu ou você que, do nada, se penduram num cabo de aço, deixando a segurança de um helicóptero perfeitamente voável, para retirar das garras da morte alguém que não conhecem. Homens que descem para vagas de 10 metros, para navios que teimam em não ficar quietos, para escarpas maiores que o maior prédio existente em Portugal sem nunca hesitar. Sem nunca dizer “não”. Sem nunca por em causa que aquela vida, lá em baixo, é sagrada, e que para salvá-la vale a pena por em risco a sua própria. Literalmente, a vida presa por um cabo.
Dentro de um helicóptero de busca e salvamento a coordenação, o trabalho de equipa, o profissionalismo e a calma de todos é essencial. A missão só é cumprida, aquele filho, pai ou irmão de alguém só chegará a casa se todos trabalharem em conjunto na mais suave das harmonias. É, e tem de ser, a mais perfeita equipa, composta por pilotos, operadores de sistemas, recuperadores e enfermeiros. Mas a Coragem destes Homens (recuperadores) nunca deixou de me surpreender. É merecedora do meu mais profundo respeito. Daquele que vem de dentro.
Um dia, numa reportagem para uma das televisões nacionais, a jornalista perguntou a um ex-recuperador salvador como é que ele se sentia no dia em que resgatou vários náufragos de um navio que afundou ao largo da costa portuguesa e que lhe tinha valido lesões que o deixaram paraplégico para todo o sempre. Agarrado e submisso a uma cadeira de rodas. Ao que ele respondeu, com a típica bravura que os caracteriza “foi o dia mais feliz da minha vida”.
“Porra” pensei “que orgulho em saber que ainda existem Homens destes”.