Rays of Hope

"Fodass, mas quem é este gajo?" Se há algo que uma tripulação tem de sobra quando está destacada nos Açores são tempos mortos. Pacientemente a aguardar que o telefone toque com notícias de um qualquer naufrágio. E portanto ali estava eu, sentado, no clube de oficiais, a explorar vídeos no Vimeo, quando me cruzei com um nome que nunca mais esqueceria: Paul Wex.

raysofhope01

Vídeo atrás de vídeo devorei-os a todos. Headsets na cabeça, o mundo que me rodeava era-me indiferente. Passava-me, literalmente, ao lado. "Este gajo é um génio". E é quando se dá aquele  momento "Eureka" (eu também os tenho, quem diria!). "E se este tipo produzisse um filme sobre a Esquadra?" 

"Ele nunca vai aceitar". "É difícil". "É estrangeiro". "Um gajo tão bom nunca virá, e certamente nunca a custo zero". Todos estes pensamentos me amaldiçoaram o julgamento. Mas se há algo que aprendi com os meus ingénuos dezassete anos e saídas nocturnas foi "que o não é garantido o sim é bem vindo".

Ali, naquele momento, escrevi-lhe um e-mail. Peguei no telefone e liguei a um pobre Major oficial de relações públicas a explicar-lhe a ideia (digo pobre porque para me aturar ele tinha - e tem! - uma paciência do outro mundo. De espírito era exactamente o oposto: dos melhores, mais fantásticos e pró-activos militares com quem tive o prazer de me cruzar). 

E o homem sonha. E a obra nasce. 

Paul Wegschaider. Austríaco de Graz, a segunda maior cidade daquela nação. E-mail após e-mail, chamada após chamada, foi combinada e coordenada a vinda do próprio. Uma semana com a Esquadra 751, a voar e a conviver connosco. E a filmar. Por vezes de uma forma que nos punha a pensar: "Mas que é que este gajo está a filmar daquela maneira?". Mas é essa a marca dos gajos bons. Eu, parte integrante da classe dos gajos normais, não entendia ao princípio. Quando vi o resultado final não evitei uma gargalhada de felicidade pura. 

Orgulho-me de ter servido naquela esquadra numa altura em que ela se viu munida de uma quantidade de indivíduos excepcionais. Não só como pilotos, recuperadores-salvadores, operadores de sistemas ou mecânicos. Mas como profissionais e pessoas que queriam fazer mais, criar, andar para a frente. Muitas vezes contra a infernal máquina burocráticas das grandes instituições. E isso respirava-se no ar. Sentia-se. Foi, sem dúvida, uma "época de ouro". E eu tinha naquele gabinete de relações públicas da Esquadra 751 dois dos mais fantásticos oficiais com quem trabalhei na Força Aérea. Na altura Tenentes, agora Capitães. E que ainda hoje lá estão. Umas máquinas. E sem eles este pequeno pedaço de gelado santini cinéfilo também não seria possível. 

Mas chega de conversa fiada. Disso estão vocês fartos.

Vale sempre a pena relembrar o que é bom. E este filme é muito bom. Senhores e senhoras, do génio de  Paul Wegschaider, Rays of Hope