11 de Novembro de 2014. Estava eu em Bruxelas. Feriado nacional.
Tanto na Bélgica como numa série de países – da Austrália ao Canadá, do Reino Unido à Holanda – celebrava-se o chamado “Remembrance Day”. Fazia então precisamente 96 anos que à 11ª hora do 11º primeiro dia do 11º mês foi assinado o armistício que terminou com a primeira grande guerra.
Na Bélgica, como em muitos outros países, celebravam-se aqueles que tombaram em combate. Aqueles que deram a sua vida pelo seu país. E aqueles que sobreviveram. Os veteranos.
É, como o próprio nome indica, o dia da lembrança. Para que nunca se esqueçam aqueles que fizeram o derradeiro dos sacrifícios.
E olhei para o meu país.
Participámos igualmente na primeira grande guerra. O CEP – Corpo Expedicionário Português – sofreu mais de 7000 baixas, a pouco mais de 50 km de onde me encontrava. Em África, tanto em Angola como Moçambique lutámos igualmente, da maneira possível, de forma valorosa.
Quem visse o estado deplorável do nosso cemitério nacional na Bélgica não o diria. Não entendo, nem concebo, uma nação que não respeita aqueles que por ela lutaram. Aqueles que por ela deram, literalmente, tudo.
A distância temporal e geográfica tende a fazer desvanecer a memória de um povo. O desinteresse, o esquecimento, a inércia instalam-se. Sempre admirei a forma como os restantes povos europeus celebram, respeitam e lembram os seus mortos e veteranos sempre com uma imparcialidade e objectividade incrível. Não julgam as guerras. Não julgam as razões. Não julgam a política. Lembram, e apoiam, apenas aqueles que lutaram e estão, ou não, entre os vivos.
Independentemente de todas as razões ideológicas ou políticas, existem ainda hoje em Portugal milhares de homens e mulheres que lutaram pela bandeira nacional. Por Portugal. E esses – tal como aqueles que tombaram faz 100, 500 ou 800 anos – merecem o meu profundo respeito. Fosse nos campos da Flandres ou na selva guineense deram o melhor da sua vida pelo seu país.
O lema da Armada, orgulhosamente presente em todos os navios, refere muito simplestemente “A Pátria honrai que a Pátria vos contempla”.
Quer-se-me parecer que cada vez menos a Pátria “os contempla”.
E a Pátria somos todos nós. Todos. E todos lhes temos uma dívida de gratidão.
Obrigado.
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