A TAP já não é o que era

 

A TAP já não é o que era.

Quantas vezes já ouvi isto nos últimos tempos. Por amigos. Por conhecidos. Nos jornais. Na televisão. Em quase todos os fóruns de opinião pública existente, especialmente nas redes sociais.

E é dito de uma forma claramente depreciativa. Dito de uma forma a rebaixar aquela que (ainda) é a companhia aérea de bandeira nacional.

É algo que, de facto, transcende gerações de portugueses. O espírito de no meu tempo é que era.

E lá no fundo é verdade. E ainda bem. 

A TAP já não é o que era. Já não é o que era porque a aviação comercial já não é o que era. As necessidades e exigências do transporte aéreo comercial moderno assim o exigem. Adaptou-se. Onde antes existiam rotações de três ou quatro horas hoje fazem-se em tão pouco tempo como 45 minutos. Onde antes se tinham rotas com 5 ou 6 passageiros hoje existem rotas com aviões quase sempre cheios. Onde antes existia uma frota de 20 ou 30 aviões, hoje existem mais de 60. O dobro. Onde antes não existia concorrência, hoje, e com o mercado liberalizado, existem dez, vinte, ou mais concorrentes.

E tudo isto implica mais exigência. O que levará a mais falhas de serviço, sem dúvida. Falhas essas que têm de ser resolvidas. Com empenho e pragmatismo. Mas elas são consequência da evolução de toda a envolvente aeronáutica.

Foto: TAP Portugal (c)

Foto: TAP Portugal (c)

Ao ler o que se escreve por aí é difícil não ficar com a ideia que gerir expectativas, para quem voa na TAP, é uma tarefa impossível. Ora se quer preços que rivalizem com as companhias low cost, ora se quer um serviço de topo. E isso é, no mercado de hoje, impossível. Não é possível vender bilhetes a valores tão baixos como 36€ e servir uma refeição quente num voo de cinquenta minutos. E por mais que isso custe a alguns, a TAP não existe para cumprir as mordomias de uma classe, de um grupo ou de um indivíduo. Existe para, ao mesmo tempo que fornece um serviço em total segurança, gerar lucro. E isso obriga à tomada de decisões, por vezes difíceis, de convergência de serviço e adaptação ao mercado e concorrência.

A TAP ainda hoje representa Portugal. O nome está lá. Reflectido no indicativo de todos os voos: “Air Portugal”. E, independentemente de tudo, a TAP é ainda hoje uma referência. Referência de optimização (é das mais eficientes companhias da Europa, poucos fazem tanto com tão pouco). Referência de segurança (considerada a 7ª companhia aérea mais segura do mundo em 2014 pelo JACDEC, 3ª mais segura da Europa e constantemente no TOP 15). Referência como empresa (é o maior exportador nacional). Referência como símbolo nacional (ela é um pedaço de Portugal pelo mundo).

E, para o bem e para o mal, a verdade é que ela é a nossa companhia. Não entendo a vontade tão forte de alguns compatriotas meus de a verem falhar. 

A TAP representa um país: o nosso.  Com tradição, com profissionalismo e com alma (o que hoje em dia é difícil nesta indústria).

E isso deveria encher-nos de orgulho.

O mesmo que se tem ao ver o nome de Portugal inscrito na fuselagem de cada avião.

TAP Vintage - Airbus A330

Deve ter sido uma altura única. Para aqueles que nela voaram, trabalharam ou simplesmente usufruíram dela. Falo dos primórdios da aviação comercial. Que época excepcional.

Sempre que oiço estórias daquele tempo, contadas na primeira pessoa, cresce em mim um verdadeiro sentimento de inveja saudável. Quem me dera ter vivido aquele período.

Hoje vemos a aviação como algo garantido. Algo comum e generalizado. E muitas vezes não nos apercebemos que da “Aventura” à “Rotina” vão apenas algumas dezenas de anos. Passaram pouco mais de cem anos desde que o homem finalmente submeteu o ar à tecnologia. Nós, portugueses, fizemos parte dessa gloriosa história. Cruzámos o atlântico sul, fizemos raides aéreos a África e a Macau. Alguns dos nossos aviadores foram os primeiros cartógrafos de muitas regiões remotas do globo. Tivemos impacto.

A companhia aérea nacional – a TAP Portugal – com pouco mais de setenta anos de existência, ainda hoje é uma das mais reconhecidas companhias aéreas mundiais, com uma imagem forte e um registo de segurança invejável.

Cruzar o Atlântico ou o deserto a bordo de um Airbus A330 não é o mesmo que era na altura da fundação da companhia. Hoje ficamos chateados porque o “wi-fi” não funciona a bordo ou porque não gostamos daquele recheio na sandes. Raios. Mas há setenta anos atrás, e a bordo de um velhinho C-47 Dakota, demorava-se mais de uma semana, com várias paragens, a chegar-se a Lourenço Marques, actual Maputo. Era um “milagre”. Cada voo era uma experiência nova. Um privilégio e, há que dizê-lo também, apenas acessível aos mais abastados.

Um Boeing 747 da TAP Portugal (autor desconhecido)

Um Boeing 747 da TAP Portugal (autor desconhecido)

Com esta nostalgia e consciência histórica em mente, as grandes companhias aéreas mundiais (e já são poucas as que têm História e ainda sobrevivem) têm vindo a promover a pintura de alguns dos seus aviões com esquemas de pintura usados durante os chamados “anos de ouro” da aviação. Quando a aviação era “glamourosa” diz-se. Foi assim com a Lufthansa, com a Aer Lingus, Iberia, entre muitas outras.

Sempre pensei que era uma pena a TAP Portugal não ter uma dessas aeronaves. Com tanta história, com tanto reconhecimento e com tanto carinho por aquela companhia, não fazia sentido a TAP não possuir uma aeronave que nos transportasse de novo para aqueles tempos. E mesmo que não fosse pelo aspecto emocional, que o fosse pelo aspecto estético. As antigas pinturas da TAP eram, à falta de melhor palavra, lindas. Tinham classe. Aquelas décadas de 50 e 60 foram efectivamente anos de ouro da aviação, mas foram-no também do design.

Mas finalmente isso mudou.

A companhia aérea nacional pintou uma aeronave Airbus A330 com uma pintura “retro” da TAP.

E está fabulosa.

Uma pintura não só para relembrar o passado, mas também para nos relembrar que esta companhia (que é nossa e que representa, e muito, a imagem de Portugal lá fora) pode ter um futuro bastante risonho.

Começámos com caravelas. Evoluímos para naus. Depois vieram os barcos a vapor. Passámos para aviões de tela e de madeira. Agora usamos monstros de metal. Mas o espírito, esse, mantém-se o mesmo.

Parabéns TAP.

Parabéns Portugal.

www.merlin37.com/tapretro

Foto: Hélio Sales (c) 

Foto: Hélio Sales (c) 

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c) 

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c) 

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c)

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c)

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c)

O "novo" A330 da TAP Portugal com pintura retro. Foto: Diogo Parra (c)

Nada de novo na frente Norte: TAP e Porto

Faz décadas, talvez mesmo séculos, que nós, como povo, vivemos com uma crónica falta de auto-confiança. Isso espelha-se no dia a dia, um pouco por todo o lado. Temos tendência a desvalorizar o que é nacional e, automaticamente, a dar mais valor a tudo aquilo que vem de fora. E quando é altura de criticar, de atirar a primeira pedra, a dualidade de critérios é ainda maior. 

O aeroporto de Saint Étienne anunciou recentemente que rescindiu contrato com uma companhia aérea “low cost” que operava nas suas instalações. Essa companhia aérea efectuava cinco frequências semanais: duas para Fes, em Marrocos, e três para o Porto. Por essas cinco frequências semanais era subsidiada pela autarquia dessa cidade em setecentos mil euros anuais. Setecentos mil euros por cinco frequências semanais. Incomportável para o aeroporto que já tinha um défice superior a dois milhões de euros, referiram os responsáveis. 

Curiosamente este cancelamento de três frequências semanais de uma companhia “low cost” para o Porto não justificou a intervenção de nenhum autarca. 

Mas por cá, como sempre, a polémica entre a cidade do Porto e a TAP Portugal mantém-se.

O negócio do transporte aéreo é excepcionalmente competitivo. É volátil, dependendo sempre de tantas variáveis externas à empresa que uma qualquer crise – seja ela política, económica, social, de matérias primas – poderá levar à falência de uma empresa que era sólida somente à meses atrás. 

É normal que as companhias aéreas utilizem os seus recursos finitos – os aviões – nas rotas onde eles são mais rentáveis. Afinal de contas o objectivo de uma companhia aérea é dar lucro. Obter dividendos. E, até ver, a TAP Portugal embora com cinquenta por cento de capital público é uma empresa de gestão privada (o próprio estado português o refere).
Tendo em conta que a injecção de capital público na TAP é, neste momento, quase nulo, é normal que a companhia tente rentabilizar os seus meios. 

O corte que ocorreu faz uns meses de algumas rotas na cidade do Porto (rotas essas que, aliás, estão novamente a ser reforçadas, subida de 9% de passageiros no último mês de Janeiro), o fortalecimento do “hub” de Lisboa e os preços competitivos de, por exemplo, Vigo para Lisboa, são parte de uma estratégia para voltar a colocar a TAP nos verdes e obter quota de mercado a outras companhias, sendo uma táctica comum a qualquer outra companhia aérea no mercado. 

Sendo que a TAP Portugal é de gestão privada, não podemos querer que ela dê lucro e ao mesmo tempo cumpra os desejos de todos. 

Vivemos num país com pormenores engraçados. Um país geograficamente pequeno em que todos os distritos querem um aeroporto internacional. Temos três em Portugal continental: Lisboa, Porto e Faro. Mas aqui d´el Rei se Beja e Leiria não querem igualmente um. E todos sabemos como correu o projecto de Beja. 

E a mesma linha de pensamento é aplicada à TAP Portugal. Todos querem rotas da sua cidade. E isso, muitas vezes, não é possível. E o que não falta são exemplos por toda essa Europa. 

Quantos voos internacionais tem a Iberia de Barcelona? Quantos voos internacionais tem a Lufthansa de Berlim? A Iberia tem um hub: Madrid. A Lufthansa tem dois: Munique e Frankfurt. Nós teríamos de ter dois? 

Quando se vem a público criticar uma empresa nacional – e até apelar ao seu boicote por razões meramente de orgulho regional – é preciso ter-se consciência da realidade do mercado. A competitividade do negócio do transporte aéreo não é sensível a regionalismos, a paixões ou a opiniões. A realidade dos números é soberana. Para quem pretende ter sucesso, pelo menos. 

Eu não digo que não existam erros de gestão. Não digo que não se devia apostar mais no Porto. Pelo contrário. Provavelmente existe muito mercado por explorar. Mas a TAP Portugal tem de gerir muito bem os ovos que tem para dar o maior número de omeletes possível. Tem de gerir prioridades. 
Afinal o que preferíamos nós todos como cidadãos? Como contribuintes

Uma TAP com lucro significativo e crescimento sustentado mas com alguns voos deficitários a menos no Porto? Ou uma TAP com um “hub” no Porto mas a reportar prejuízo? 

Eu compreendo que um político  “defenda a sua dama”.  Está no sangue de qualquer um. Mas com pés e cabeça. E não atacando um parceiro importante apenas por eleitoralismo político.

Ou então é simples: financia-se e subsidia-se a TAP Portugal como se faz com algumas empresas “low cost”

Saint Étienne pagava setecentos mil euros. Quanto pagarão os municípios do norte pelas mesmas "low cost"? 

Mas disso... disso não convém falar. 

É incómodo.

E não dá votos

www.merlin37.com/tapeporto

TAP & Facebook

Hoje decidi fazer uma experiência social. Fui ler com atenção a página de Facebook da TAP Portugal. 

Já sabia que nós, portugueses, podemos ter mau feitio. Pior que as cobras. Quando queremos, tão maus como a ferrugem! Li. Li e continuei a ler. 

“Já devia era ter juízo” pensei para dentro. 

Entre juras de boicote, de linchamento público e de apelos ao regionalismo encontramos um pouco de tudo. O síndrome de “treinador de bancada” também aqui existe. Muitos se transformam em peritos aeronáuticos, únicos detentores da compreensão das leis da Física que amarram um avião ao éter. 

Algumas queixas em concreto. Mas muitas em abstracto. 

Para mim foi uma experiência traumática. A malta que gere o Facebook da TAP (um dos mais eficientes que anda pela Web) não tem um trabalho fácil

tapfacebook

E então interroguei-me. Será que também as outras companhias sofrem desta aparente raiva? Será que os alemães odeiam a Lufthansa? Os espanhóis a Ibéria?  Bem... vamos ver.  

Lufthansa. Permitam-me fazer já aqui “mea culpa”. De Alemão percebo tanto como de plantações de beterraba. Portanto limitei-me a comentários em inglês. Quase dois milhões de gostos (sensivelmente o dobro dos da página da TAP). Muitas questões sobre voos, algumas reclamações sobre outros e um ocasional comentário mais agressivo sobre um cancelamento. Mas comentários contra a companhia? Contra a marca? Não vi nenhum. 

Seguem-se os Bifes. British Airways. Exactamente o mesmo. O ocasional comentário sobre cancelamentos de voos, mas em geral até bastante positivo. Como é apanágio da cultura britânica, muitos elogios a elementos individuais que se excederem no seu trabalho. Ataque à companhia ou à marca, zero. 

“Oh porra” pensei. “Mas isto são tipos frios. Nórdicos e afins. Não se exprimem da mesma maneira”. Vamos lá ver os latinos. 

Iberia. “Nuestros hermanos”. Certamente depois de todos os problemas da Iberia haverá “granel” neste facebook. Click. Já mais queixas sobre voos. Malas perdidas. Questões sobre Bruxelas (de facto, presente em todas as páginas). Andando um pouco mais para baixo lá se encontra um curto e forte: “Ustedes son una aerolinea péssima”. Nem bons ventos nem bons casamentos. Tinha de haver alguma coisa! Mas mesmo assim muito longe da página da TAP.

E por falar em “alguma coisa” vamos lá ver a Alitalia. Aquela companhia que fez título de artigo com “A empresa italiana em que nem os italianos confiam”.  Nada. Perdão. Niente. Página calma. Os Italianos já devem gostar da Alitalia como gostam das apresentadoras da Rai Uno. 

“Caramba”. As Low Cost serão diferentes certamente.

EasyJet. Queixas sobre a marca? Poucas. Quase nenhumas. Pelo contrário. Mais de um milhão de gostos e tirando o ocasional passageiro(a) que relembra a companhia a cada post da sua má experiência, pouco mais se vê.

E finalmente, Ryanair. Certamente aqui haverá alguma “raiva” à solta. Tendo em conta o tipo de operação da companhia. Como eu me enganei. Até encontramos comentários que se iniciam com "Ryanair can you kindly confirm (...)” que equivale a perguntar a um membro do Corpo de Intervenção se faria o favor de bater com jeitinho.

Após isto entrei num momento de retrospecção pessoal. Será a TAP assim tão má comparada com as suas congéneres? Será o serviço, a pontualidade ou operação assim tão diferente que justifique tais diferenças? 

Não. Não é. 

Os números provam-no. Mantém-se uma das companhias mais seguras do mundo. Nos últimos meses a TAP fez parte das dez mais pontuais. Eleita ano após ano como líder para as Américas e África e com um serviço considerado de topo. Há muita razão para se voar na TAP. 

O que muda afinal? Nós. A nossa mentalidade de povo. Aquela nossa ideia que como algo é nacional terá de se submeter aos nossos caprichos. Um pouco à semelhança de como encaramos – infelizmente – o Estado. Ou quem nele exerce funções. “Pode ser mau, mas desde que me favoreça, tudo bem”. 

A TAP não voa da minha cidade para o destino que quero? “Boicote!” Pouco interessa se isso daria prejuízo. Não, o que interessa é ter essas rotas. Sejam boas ou más para a “saúde” da companhia. 

A TAP não vende bilhetes para Nova Iorque a 100€? “Uma vergonha! Como português merecia isso”.

Um avião da TAP alternou por causa de mau tempo? “Como é possível? Só na TAP, desgraça nacional!”

Um avião da TAP atrasa? “É sempre a mesma coisa”.

Suspiro. 

Deveríamos todos remar para o mesmo lado. E não fazer juras contra o sucesso daquela que ainda é uma das poucas marcas nacionais.

E isto acontece quando a empresa já é privada (dizem). 

Imaginem se ainda fosse pública. 

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