Habituem-se a um Governo composto por elementos com base em ligações familiares e não em meritocracia.
Habituem-se a Secretários de Estado que recebem financiamento para projectos que não saem do papel.
Habituem-se à noção de que os problemas desaparecem se enterrarmos dinheiro nos mesmos.
Habituem-se a um governo para qual o acto de “reformar” é tabu.
Habituem-se a um governo em que Ministros tomam decisões estruturais para o país sem respeitar a cadeia hierárquica.
Habituem-se à arrogância.
Habituem-se à ideologia, mesmo que esta signifique a disseminação da incompetência, amadorismo e despotismo em empresas e organizações do Estado.
Habituem-se a um governo que se rege pela frase “faz o que digo, não faças o que eu faço”.
Habituem-se a Ministros que clamam contra o Privado e acabam por pagar mais por (muito) menos.
Habituem-se a um governo que restrutura empresas através de cortes brutais e despedimentos colectivos. Enquanto “recompensa” o seu elemento com nomeações e permitiria - se o caso não se tivesse tornado público - uma indemnização milionária sem consequência.
Habituem-se a um executivo que nunca sabe. Nunca ouviu falar. Que desconhece. Que vai averiguar. Que diz “isso é um casinho”.
Habituem-se a governantes que nunca têm culpa, que nunca assumem responsabilidade. “É a conjectura internacional”, “é culpa do governo anterior” (aquele que já saiu faz 8 anos), “é culpa do privado” são as frases de ordem.
Habituem-se a um governo que, ao contrário da mulher de César, não aparenta fazer um esforço para tentar parecer sério.
Habituem-se a representantes políticos para os quais estar cada vez mais na cauda da Europa é não só normal, como aparenta ser desejável.
Habituem-se a um governo para o qual a Ética é um conceito desconhecido. E a responsabilidade política uma raridade.
Habituem-se à falta de vergonha.
Habituem-se…
… Porque a culpa também é nossa.
Capa da Revista VISÂO de 15/12/2022
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