O calor era infernal. Tórrido. Quase insuportável. Estamos em finais de 1540 e desembarcam quatrocentos portugueses na costa da Etiópia. Todos eles voluntários. Provavelmente nunca tinham visto deserto nas suas vidas.
Naquela que será porventura uma das menos conhecidas campanhas portuguesas, estes homens comandados por Cristóvão da Gama (filho mais novo de Vasco da Gama) respondiam a um pedido de auxílio do reino de Preste João (na realidade o império cristão da Etiópia governado por Dawit II) invadido por forças muçulmanas.
Quatrocentos portugueses que em duas batalhas derrotaram um inimigo muitíssimo superior. Imagino os tomates necessários para manter pé firme com uma armadura mais quente e pesada que um pequeno forno. A força falhou na terceira batalha tendo os lusos sido derrotados. Gama perdeu a cabeça. Literalmente, decapitado. No entanto os cem sobreviventes juntariam-se ao exército local e, finalmente em 1543, expulsariam o exército invasor.
Quatrocentos portugueses. Um quatro seguido de dois zeros. Quatrocentos tipos provenientes de um rectângulo ali no fundo da Europa mas que valiam por quarenta mil.
A nossa história está repleta de episódios semelhantes. Episódios onde uma mão cheia de portugueses – com muita sorte, engenho e coragem à mistura – se fizeram valer por muitos mais...
Portugal.
Somos o país de Viriato e de Afonso Henriques. O país de D. João II e de D. Manuel.
Somos o país de Henrique o navegador, de Vasco da Gama e de Pedro Álvares Cabral. O país de Afonso de Albuquerque e Nuno Álvares Pereira.
Somos o país de Fernão Mendes Pinto. O país de Damião Góis e Gil Vicente.
Somos o país de Camões. De Eça. De Saramago e Lobo Antunes. O país de Fernando Pessoa e Almeida Garrett.
Somos o país de Egas Moniz e António Vieira. O país de António Damásio e Pedro Nunes.
Somos o país de Nuno Gonçalves e Paula Rego.
Somos o país de Carlos Lopes, Mourinho, Eusébio e Ronaldo. O país de Amália e Carlos Paredes.
Somos o país de Siza e Souto de Moura.
Somos o país de Sacadura Cabral e Gago Coutinho.
Somos o país de Aristides de Sousa Mendes.
Somos o país de Bocage. Ou como diria o próprio, “o país de Bocage caralho”!
E como estes existem centenas... milhares de tantos outros.
Exemplos e inspirações pela positiva. Como também os há pela negativa é certo.
Mas não nos faltam razões para ter orgulho pois não?
Não.
Não falta.
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