Existem chamadas que não queremos atender. Mensagens que esperamos não ler. Notícias que esperamos não receber. Apanham-nos como um murro no estômago, de surpresa, sem reação possível. Dias que não queremos viver.
Hoje foi um desses dias. Hoje perdi um camarada. E um amigo.
“Foda-se”, foi a primeira palavra que saiu do fundo do meu ser. Tudo menos conveniente eu sei, mas... foda-se!
A combater um incêndio, perdeu a vida alguém que dedicou a sua em prol de todos nós, fosse no combate a incêndios, fosse na busca e salvamento.
Perdi a conta às vezes que voámos juntos. Aos destacamentos que fizemos. Aos alertas que saíram cinco minutos depois de sairmos de serviço. Às vezes que praguejámos contra aquilo que pensávamos estar mal. Às vezes que eu não me calava e tu, com paciência, lá ouvias as merdas que eu dizia. Às vezes que ficámos no bar da Esquadra até às tantas.
Há algo de cruel quando alguém nos deixa antes do tempo. Mas é especialmente difícil quando tal acontece a alguém que se dedica ao bem-estar dos outros. A alguém que sempre esteve lá quando foi preciso.
Perdi vários amigos a voar nos últimos anos. Mais do que alguma vez pensei. E sempre disse que não queria voltar a passar por isso. Por isto! Esta profissão é linda. Mas é também uma grandessíssima cabra. Esta é, porventura, a única coisa na Vida onde a experiência não ajuda. Pelo contrário. Cada vez se torna mais difícil. Mais doloroso. Mais cruel.
Foda-se.
Até um dia Camarada.
Encontrar-nos-emos novamente.
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Foto: Menso Van W.