Encontrar-nos-emos novamente

Há coisas que um gajo nunca pensa vir a viver na vida

Estão tão distantes como uma notícia na televisão ou uma coluna no jornal. Lá longe. Noutro mundo que não o nosso. 

Não. No nosso isso não acontece. 

Foto: A. Catroga/CAVFAP (c)

Foto: A. Catroga/CAVFAP (c)

Hoje perdi três camaradas. Três.

A Vida tem esse jeito estranho de ser injusta. De ser filha da puta. De aparecer do nada para nos deitar abaixo. De nos roubar a alegria e no lugar dela instaurar uma tristeza e frustração difícil de explicar por palavras. 

Três camaradas, militares, que deram aquilo que de mais valioso tinham ao serviço do seu país. Ao Nosso serviço. 

A sua vida. 

Estavam sempre prontos, fosse no Afeganistão ou no Mali. Nas ilhas ou num qualquer local pelo mundo a necessitar de ajuda. Com aquela bandeira – a nossa – orgulhosamente ostentada no ombro direito. Não por três semanas. Não por um campeonato. Mas todos os dias. Vinte e quatro horas por dia. Pela Pátria. Onde e quando necessário. 

Isso sim, é patriotismo

Nós, pilotos, sofremos um pouco de complexo de invencibilidade. Quando somos novos o céu é o nosso recreio. Aquele infinito azul à nossa frente é a nossa casa, o sítio que escolhemos para dali fazer a nossa vida. Dominamos máquinas de metal contra a violência e incerteza do éter. Voamos baixo, baixinho, ou no limiar da atmosfera. Andamos de cabeça para baixo ou de portas abertas. Lutamos pela Pátria ou ajudamos a salvar vidas. Todos temos a noção dos riscos. Todos. Preparamo-nos para ele. Treinamos intensivamente. Suamos e estudamos até ter todos os procedimentos na ponta da língua. Até tratarmos aquela aeronave, qualquer que ela seja, por “tu”.

E voar? Para nós? Para nós é um privilégio. Um privilégio que temos a honra de viver no dia a dia. Isso faz de nós uma espécie de irmandade. Uma espécie de clube. Dos mais restritos que existe. E, ao mesmo tempo, dos mais abertos. Pronto a receber qualquer um que partilhe desse entusiasmo, dessa paixão.

E é por isso que custa tanto ver alguns de Nós partir para voos “mais altos”. Para lá do éter. 

Bons voos camaradas Bisontes. 

Um dia encontrar-nos-emos novamente

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