A última largada

Não sei o que dizer. Não sei bem o que escrever.

Perdi demasiados camaradas e amigos da minha geração nesta coisa a que chamam voar. Os dias de merda – como o de hoje – tornam-se cada vez mais frequentes. Hoje perdi mais um. E perder um que fosse já seria perder um a mais.

Isto não se torna mais fácil com o passar do tempo. Pelo contrário, torna-se mais difícil. Como se nos relembrasse que a nossa tão egoísta sensação de invencibilidade não passa disso mesmo: uma sensação. Ainda hoje em conversa com um camarada dizíamos que esta profissão é linda. É aquilo que todos nós – que a fazemos – sonhámos um dia fazer. Mas também é cruel. É filha da puta. E esse reverso da medalha é doloroso mesmo quando o fazemos em prol do bem comum. E quando algum de “nós” parte mais cedo no decorrer da sua missão é duplamente difícil.

Tanto na Força Aérea como no mundo civil, voaste para ajudar quem mais precisava. Hoje voavas por todos, no combate a essa maldição que nos atinge todos os anos, os incêndios. É injusto. É muito injusto.

Até um dia Camarada.

Encontrar-nos-emos novamente.

www.merlin37.com/ultimalargada