Desilusão

Desilusão porque quase 70% de abstenção é um recorde histórico (negativo).  

Desilusão porque 70% deixaram na mão de 30% a decisão de quem nos representará na Europa nos próximos cinco anos. 

Desilusão porque hoje em dia grande parte da legislação posta em prática em Portugal é definida em Bruxelas. E com esta abstenção estamos a mostrar indiferença por algo que nos afecta directamente. 

Desilusão porque amanhã de manhã irão continuar a existir as conversas de café e o queixume do costume quando, na realidade, 70% deixaram de ter legitimidade para tal. 

Desilusão porque, independentemente da orientação política, o que não faltava nestas eleições era alternativas. Da chamada Esquerda à Direita, a quantidade de partidos (e programas) cobria quase todo o espectro de opinião.

Desilusão porque, mesmo assim, não era preciso votar em nenhum. Podia ser em branco. Podia até ser um “viva o Benfica” escrito no boletim de voto. Ou mesmo um vernáculo mais violento para com alguém. Mas aparecia-se. Estava-se lá e respeitava-se o processo democrático, demonstrando que a preocupação, e o respeito, de estar presente existia. 

Desilusão porque por mais que a campanha eleitoral tenha sido desastrosa e focada em tudo menos no que era importante - a Europa - era no boletim de voto que se deveria demonstrar o nosso protesto.

Desilusão porque, por mais zangados, frustrados ou desiludidos que estejamos, este ainda é o melhor sistema político existente. E é votando que o valorizamos e lhe damos força.

Desilusão porque muitos lutaram, sofreram e perderam a vida para que as gerações futuras pudessem, simplesmente, colocar uma cruz num boletim de voto - de anos a anos. 

Desilusão porque é assim que se fomenta, e incentiva, o surgimento da incompetência, do conformismo e dos “profissionais da política” que, percebendo a inacção da base do sistema democrático, se instalam calmamente nas cadeiras do poder.

Desilusão, e já agora vergonha, porque 70% dos meus compatriotas acharam que não era importante.

Mas era. Muito.

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