Estamos encurralados. Presos entre duas enormes paredes sem aparente fuga possível: Esquerda e Direita.
Confesso que sempre estranhei quem afirma com convicção que é de Esquerda ou de Direita. Falamos de opções políticas como se de futebol se tratasse. E embora compreenda a razão histórica para o uso desses termos, assumo sempre que existirá senso comum na compreensão da sua “volatilidade”. É que Esquerda nos Estados Unidos e Direita na América no Sul, por exemplo, não são o mesmo que na Europa. Votamos, e discutimos, como se existisse alguma vergonha em admitirmos que, por vezes e como é natural, escolhemos a opção errada. Votar num partido não nos escraviza a uma ideologia.
E o Presente demonstra-nos isso tão bem. Hoje parece ser impossível ser-se moderado. Parece impossível ser-se ponderado. Parece impossível ser-se de Centro - para usar a mesma analogia.
Mas porquê?
Pode defender-se uma política de defesa nacional forte e ao mesmo tempo defender a imigração como uma possibilidade viável para equilibrar a demografia nacional. Pode ser-se liberal, defendendo uma muito menor intervenção do Estado na economia, e ao mesmo tempo defender-se um Serviço Nacional de Saúde público forte. Pode defender-se o direito ao aborto e ao mesmo tempo defender-se o serviço militar obrigatório. Nenhum partido, nenhuma ideologia política ou nenhuma personalidade tem o direito de se apropriar de uma causa, qualquer que ela seja. Essa causa será sempre, em última instância, propriedade de apenas uma entidade: a consciência de cada um.
Esta tendência e necessidade de catalogar tudo, de nos colarmos a uma causa por tudo e por nada e de projectarmos uma atitude politicamente correcta exagerada levará à queda da nossa sociedade tal como a conhecemos.
Parecemos por vezes incapazes de discutir calmamente, ponderadamente e racionalmente assuntos que nos afectam a todos, porque estamos “presos” a ideologias, ou, não estando, somos julgados como se estivéssemos.
Na minha vida de eleitor já votei em quase tudo. Já li vários programas de governo (só por isso já mereço uma medalha). Já interroguei governantes.
E desilude-me esta superioridade moral de quem pensa que ele/a e só ele/a tem o direito de assumir um assunto como causa. Não quero gente de Esquerda. Nem quero gente de Direita. Quero indivíduos competentes, inteligentes e íntegros, que deêm o seu melhor. Porque pessoas com opiniões válidas e pessoas com opiniões idiotas existem… tanto de um lado como do outro.
Solte-mo-nos das correntes da ideologia. Ou em breve iremos cair nas garras de uma, enquanto alegremente nos acusamos uns aos outros de “fascista” ou “comunista” sem sequer sabermos realmente o que isso significa.
E será uma queda e tanto.
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