O último a sair que apague a luz

Dizia-me um amigo ontem que “nas câmaras municipais, e nos organismos públicos, como a de Oeiras, muitas vezes era preciso possuir um registo criminal limpo para se trabalhar”. Estará, porventura, na altura de exigir o mesmo a quem se candidata a presidente das mesmas? 

Curiosamente, e no mesmo dia na outra ponta desta península, houve quem confrontasse cargas policiais pelo direito de votar (num referendo legítimo ou não, não discuto). Por cá, para além de mais uma vez a abstenção ser astronómica, houve quem votasse de ânimo leve - ou gosto de pensar que assim o foi. 

Oeiras é, pelo menos estatisticamente, o concelho do país mais instruído (possui a maior percentagem de licenciados entre os seus eleitores) e é, também, o segundo concelho mais rico do país (em valores “per capita”). Um dos candidatos independentes foi eleito por larga margem. Relembro que esse mesmo candidato foi condenado a sete anos de prisão em 2009 por fraude fiscal, abuso de poder e corrupção passiva para acto ilícito e branqueamento de capitais. Será isto um problema? 

Quase 42% dos eleitores de Oeiras pensam que não. 

Eu sei que em Democracia cada voto vale tanto como o voto do próximo. E ainda bem. Mas que relação é esta que o meu país, e o meu povo, tem com a corrupção? Que moral, ou que valores, temos todos nós como povo, que nos leva a criticar de forma veemente os episódios que abrem os telejornais e, no dia decisivo, escolhemos os mesmos que os praticam? 

Lá no fundo, somos “todos” corruptos. Temos “todos” uma relação de promiscuidade com essa terrível forma de gerir a vida. “Todos”. Eu sei que é reconfortante pensar que apenas os nossos líderes, ou governantes eleitos, são activos nesse acto desprezível de corromper. Mas a realidade é bem mais profunda. Quando a grande maioria de nós procura activamente uma forma de escapar aos impostos, quando aceita uma compra sem factura ou mesmo quando tenta escapar a uma multa da PSP, está, também, a praticar aquilo que critica. Somos egoístas. Somos individualistas como sociedade. E dir-me-ão: “não é a mesma coisa”. Mas é. É exactamente a mesma coisa: o princípio de usar relações pessoais, profissionais ou de afinidade para beneficiar alguém ou um grupo. Geralmente a nossa própria pessoa. As motivações poderão ser diferentes. As razões poderão ser diferentes, sem dúvida, mas o acto em si é o mesmo. 

Não existem políticos corruptos sem um povo corrupto. E ontem provou-se isso mesmo. 

E se alguém estiver a pensar em dizer que “mas o homem deixou obra feita” ou “cumpriu a pena, perante a justiça está saldada a dívida” não se esqueçam também de por à frente dos quartéis de bombeiros incendiários condenados pela justiça. De por à frente do Banco de Portugal, um qualquer banqueiro condenado. E de colocar à frente das entidades reguladoras qualquer CEO das empresas que é suposto regular. 

E já agora dêem aos ladrões de Tancos as chaves dos arsenais das forças armadas. 

Pensava eu que estávamos no bom caminho. 

O último a sair do país que apague a luz se fizer favor. 

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