Oito minutos

Lia no Washington Post outro dia, e no rescaldo do ataque terrorista no mercado de Natal em Berlim, que, talvez, a melhor reacção à recente onda de ataques terroristas seria ignorá-los. Defendia o artigo que a excessiva mediatização dos ataques contribuía para a sua glorificação e os tornava, com a complacência dos media ocidentais, em actos de recrutamento. Posição polémica, sem dúvida, mas não está desprovida de lógica. Um ataque terrorista tornou-se, na Europa de hoje, uma infeliz vulgaridade. 

Londres, mais uma vez, sofreu na pele. Já perdi a conta às vezes que lá fui. Gosto dela, da cidade. Do movimento, da mistura, do ambiente e da forma organizada como uma das maiores metrópoles mundiais aparenta funcionar.  

Eficácia. 

Eficácia. 

Aparenta não. Funciona. 

Ontem, pelos piores motivos, foi a prova disso.

Oito minutos. 

Foram apenas oito minutos entre a primeira chamada para as autoridades até que os três suspeitos fossem abatidos. Paremos um momento para nos apercebermos da enormidade e da importância desses oito minutos. 

Numa cidade como Londres, enorme e confusa, bastaram oito minutos para uma resposta eficaz. Parece uma eternidade. Foi-o certamente para as pessoas que estiveram lá e viveram na primeira pessoa o final de dia de ontem. Mas não o é. 

Tão curtos e ao mesmo tempo tão longos.

Oito minutos numa cidade em que a maioria dos polícias patrulham desarmados e, ainda por cima, numa sexta-feira à noite não é impressionante. É exemplar

E essa rapidez talvez seja essa a prova que que já nos habituámos demasiado. 

Talvez seja essa a prova que, para nós, já é “normal”. 

Talvez seja essa a prova que Londres é uma Grande cidade. 

Oito minutos. 

Natal versão Londres

Imaginem isto.... Savana africana. Uma manada de gnus. Um leão. E vocês são aquela azarada suricata, que por acaso só ia ali buscar leite à esquina, e deu por si no meio da manada no exacto momento em que o leão ataca. Isto é Oxford Street em Dezembro. 

piccadilly

Confesso. Gosto de Londres. E existem cidades que têm um encanto especial na época de Natal. Londres faz parte desse restrito lote. 

Um pé fora da estação de Piccadilly Circus e já se ouvem os acordes de uma banda que enche o ar com melodias de Natal. Digna de orquestra.

Cruza-se a rua, direcção norte, e breve passagem pelo Soho onde é possível ver algumas das mais originais decorações de Natal. Se não estivessem aqui estariam no MoMA de Nova York. 

Segue-se para oeste já com o natalício copo vermelho de Starbucks na mão. Em Piccadilly Street assentam arraiais dois tipos que têm uma das mais originais bandas musicais: vestidos de duendes, dois jamaicanos tocam em Reggae um Jingle Bells de outro mundo. Sim. Dois jamaicanos, vestidos de duendes, nos cruéis 5ºC de Londres.  Só por isso já merecem duas libras. 

Hora de sentar num restaurante e rogar pragas a Baco quando o preço de um copo de vinho que está para a vinicultura como o Tony Carreira está para a música clássica, custa doze euros e meio. “Bem, afinal de contas estamos em Londres”. Não sei qual é a minha surpresa. No rádio “Let it snow”. 

soho

Tempo de fazer um golpe de mão às lojas em Oxford Sreet. “Black Friday” é um conceito que aqui não existe. Aqui é “Black week”. “Black Monday”, “Black Tuesday”, e por aí em diante.  Qualquer que seja a loja o cenário é o mesmo: parece o desembarque na Normandia. Entrar já é uma vitória. Comprar e pagar é ganhar uma medalha. 

Mas encontra-se de tudo. Literalmente tudo. Existem lojas, livrarias, discotecas (no original sentido da palavra, a loja que vende discos) em que podemos encontrar o que quer que andemos à procura. Mesmo que seja aquele disco de José Cid de 1982. Vá-se lá saber porquê. Um paraíso para quem quer encontrar “aquela” primeira edição ou aquele raro vinil. 

É hora de beber um copo, logo é hora de terminar a tarde num dos rooftops da cidade. Naqueles em que a garrafa mais barata custa uma prestação da minha casa. 

“Era uma água das pedras, por favor”. 

Londres tem esse “encanto”. É um antro de consumismo desenfreado. Mas é um antro com pinta. 

Muita pinta.