Isso me envaidece

“GOLLOOOGOLOOOOO! INCHEM, FODASS!!!”, gritava eu a plenos pulmões enquanto saltava da cadeira, de punhos fechados a bater na mesa. 

O Benfica acabava de marcar o primeiro golo.

À minha volta, incrédulos, um punhado de espanhóis, letões e claro uma mão cheia de alemães. Não sou muito subtil a ver jogos do Benfica e esta rapaziada estava a descobrir isso. Todos com olhar curioso e algo reprovador na minha direcção. Ali estava eu, sozinho, a gritar,  a saltar e a praguejar, admito, em português. Estou em Riga, capital da Letónia. Mais concretamente num bar irlandês (nunca falha, transmitem sempre os jogos da Liga dos Campeões).  As paredes, em tom creme, sujas e repletas de quadros, como que abafam os meus berros. A empregada olha para mim como quem olha para um cão vadio. Um gajo aos berros, o único de facto, no meio de um bar cheio de gente. 

E não era para menos. O meu Benfica marcara um golo. Ali, naquela cidade báltica, não me sentia abandonado. Gritava por sessenta e cinco mil. Não! Gritava por seis milhões! 

“INCHEM CABRÕES!!!” 

O tenor de ópera lá do nosso estabelecimento. Foto: Sport Lisboa e Benfica (c)

O tenor de ópera lá do nosso estabelecimento. Foto: Sport Lisboa e Benfica (c)

No final do jogo a história era diferente. Já não me encontrava tão eufórico. Era um empate. Um cruel 2-2 que eliminava o Benfica da competição. Já não iríamos competir pelo título de melhor da Europa. Mas saíamos de cabeça erguida e peito feito. Em mim, naquele bar, naquela cidade fria, ao invés de tristeza crescia um sentimento de Orgulho

“Orgulho?” perguntarão. Sim. Orgulho.

Orgulho pela forma como se bateram e acreditaram. Como tacticamente enfrentaram aquele comboio bávaro com maquinista espanhol. Orgulho por fazê-lo sem todo o nosso ataque titular. Todos eles lesionados ou castigados. Orgulho pela forma como encarámos todos aqueles que disseram que seria uma goleada. Orgulho pelo Rui Vitória. Que com toda a classe, paciência e profissionalismo provou a todos – benfiquistas incluídos – que é um Campeão.  Orgulho por aqueles adeptos. Quando o apito soou ali estavam eles, cachecóis em punho a gritar “Benfica”. Um dos mais fantásticos finais de jogo de sempre. E perdemos a eliminatória. Imagino se tivéssemos ganho. 

E orgulho...pelo sentimento de frustração. 

Sim. Isso mesmo. Orgulho pelo sentimento de frustração. Esse sentimento que me consumia e fazia beber cada golo de cerveja desconfiado, com os olhos naqueles bávaros na mesa lá do fundo. Porque isso significa que encarávamos o jogo de igual para igual. Ali, a jogar naquele estádio, não estava o temível Bayern Munique. Não.  Estava um outro qualquer clube, que não o nosso, que vinha jogar à Luz. E como tal iria ter de sofrer para levar dali uma vitória. Sofreu. E não a levou. Levou um empate. A prova que o nosso lugar é ali: nos melhores da Europa. 

Raramente falo de futebol. E muito menos fico contente quando a minha equipa sai derrotada. Mas hoje foi diferente. 

Hoje gritei a alto e a bom som: “Sou do Benfica!”

E isso me envaidece!

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